Texto bíblico: 2 Samuel 16:5-13
INTRODUÇÃO: A paz do Senhor Jesus a todos vocês, irmãos e irmãs. Como já sabemos ao final de cada trimestre, temos ouvido um sermão especial da série “Vidas que ensinam santidade”. Hoje, dentro desse mesmo projeto, vamos refletir um pouco sobre a vida de Davi, procurando extrair algumas lições dessa difícil experiência que ele vivenciou. Costumamos olhar para esse servo de Deus e vê-lo como um “super homem”, mas gostaria que você tentasse vê-lo como, de fato, ele era: uma pessoa de carne e osso, alguém que tinha emoções e que cometia erros. Alguém igual a mim e a você.
Quero convidá-lo, nesta manhã, a olhar para esse personagem real e procurar imitar as atitudes que o tornaram um homem segundo o coração de Deus. Nesse texto que acabamos de ler (2 Sm 16:5-13), há algo em Davi que deve ser imitado. Ele sofreu uma dupla agressão: foi verbal e fisicamente agredido. Se você estivesse na pele dele, o que faria? Ao contrário do que se espera, ele agiu de maneira paciente e sábia. Por isso, passou por aquela afronta e saiu do outro lado mais maduro e mais santo. Vamos aprender, nesta mensagem, que qualquer pessoa que tenha Deus em sua vida também pode agir assim, diante da agressão, e crescer espiritualmente.
Com Davi, veremos três princípios da palavra de Deus que nos ensinam o que fazer, quando somos agredidos. E o primeiro princípio é este:
1. AO LIDAR COM A AGRESSÃO, DOMINE A EMOÇÃO
O contexto dessa passagem bíblica é revelador. Davi estava vivendo um dos piores momentos de sua vida. Além dos muitos problemas em sua família, Absalão, seu filho, conspirou contra ele e tomou o seu trono. Esse jovem revoltado passou a reinar, e Davi teve de fugir, para salvar a própria vida. De uma hora para outra, deixou de ser um monarca amado e respeitado e tornou-se um fugitivo odiado e humilhado. Estava no fundo poço, mas bem no fundo mesmo! Foi nessa situação, corroído pela culpa, exausto, desanimado, que Davi se deparou com um indivíduo que apareceu do nada, para piorar ainda mais a sua tragédia.
Tudo aconteceu assim: Em sua fuga, Davi chegou à cidade de Baurim e, ali, experimentou algo inusitado. Um homem da família de Saul, chamado Simei, saiu ao encontro dele e começou a agredi-lo verbalmente. Em seguida, passou a jogar pedras nele (cf. 2 Sm 16:5-6). As ofensas eram mentirosas e duras demais. O homem gritava: Fora daqui, assassino, amaldiçoado! Você já está recebendo o castigo de Deus pela morte de Saul e sua família; você roubou o trono de Saul e agora seu filho Absalão o toma de você! Finalmente você está experimentando o seu próprio remédio, seu assassino! (2 Sm 16:7-8 - Bíblia Viva).
Esse Simei era um completo covarde, um indivíduo perverso e sem noção. É o tipo de pessoa capaz de chutar você, quando você está caído no chão. Você está lutando para se levantar e lá vem o Simei chutar você com toda força! Pessoas assim despertam o que há de pior em nós. Que teste para Davi! Ele poderia explodir de ira e descontar toda a sua frustração naquele infeliz; contudo, dominou a emoção e não reagiu. Você passaria nesse teste? Há pessoas que ficam estressadas com o trabalho, e, por pouca coisa, descontam esse estresse sobre a esposa ou o esposo, com ofensas terríveis. Às vezes, estamos com raiva da vida e despejamos nossa raiva em cima do balconista da loja ou do atendente de telemarketing, só porque disse algo que nos desagradou. Era o que o rei poderia ter feito; todavia, não o fez. Além disso, enquanto o perverso Simei estava dizendo aquelas mentiras, apareceu um louco para aconselhar Davi. Leia o versículo 9: Então, Abisai, filho de Zeruia, disse ao rei: Por que o senhor permite que este cachorro morto o amaldiçoe? Deixe que eu vá lá e cortarei a cabeça dele. Que conselho terrível! Quantas vezes, em situações semelhantes, aparecem pessoas falando coisas parecidas: “Você vai deixar por isso mesmo?”; “Pode deixar comigo que eu resolvo isso para você”; “Reaja! Você tem seus direitos; não deixe que pisem em você”. Você já ouviu isso alguma vez?
Naquele momento, Davi poderia se ofender e revidar, ou, simplesmente, ignorar as ofensas. Observe o que ele fez, no versículo 10: Respondeu o rei: Que tenho eu convosco, filhos de Zeruia? Ora, deixai-o amaldiçoar. Veja que curioso: Zeruia era irmã de Davi. Ela teve três filhos: Abisai, Joabe e Asael (1 Cr 2:16). Os três eram “pavio curto” e resolviam tudo na base da violência. Infelizmente, entre o povo de Deus de hoje, existem pessoas assim, parecidas com os filhos de Zeruia. Estão sempre prontas para a briga e não levam desaforo para casa. Se esse é seu caso, você precisa mudar, pois assim agem os filhos de Zeruia, mas os filhos de Deus, que têm o Espírito Santo em suas vidas, devem agir de forma diferente. Cabe, aqui, uma observação: Esse ensino não deve ser usado como desculpa para impedir que as pessoas que sofreram agressões físicas ou verbais denunciem seus agressores. A violência deve ser denunciada e combatida! Principalmente, quando se trata de violência contra mulheres ou crianças.
O que não podemos é revidar com outra agressão ou fazer justiça com as próprias mãos. Essa é a lição de Davi. Apesar de sua superioridade, ele não se vingou, nem respondeu aos insultos de Simei. Que lição magnífica de autocontrole! Ele tinha coração mole, mas a sua pele era grossa e capaz de amortecer as pedras e as ofensas lançadas contra ele. Assim como Davi, não podemos ser sensíveis demais, a ponto de nos ofendermos com qualquer coisa, nem revidar a qualquer insulto. Se alguém lhe agride e você reage devolvendo uma agressão maior, você perde a razão e a batalha. É preciso aprender a dominar as emoções e as reações. Peça isso a Deus. “Qualquer um é capaz de revidar; mas só o cristão cheio do Espírito Santo pode sujeitar-se e deixar que Deus trave suas batalhas”.
Quer lidar vitoriosamente com a agressão? O primeiro princípio que aprendemos é este: Domine a emoção, ou seja, tenha autocontrole, segure a sua reação e não revide. Vamos, agora, ao segundo princípio.
2. AO LIDAR COM A AGRESSÃO, EVITE A AMARGURA
Não basta dominar a emoção, no momento, e não reagir com outra agressão. Também é fundamental cuidarmos para que o nosso coração não guarde mágoa da pessoa que nos agrediu, pois isso nos torna amargurados e vingativos. Quando não superamos corretamente uma agressão, o efeito é dramático. Veja: A ofensa acontece, e se não for ignorada, transforma-se em ressentimento, que, por sua vez, não sendo curado, fará com que o ódio comece a nascer. Com o passar do tempo, o ódio leva ao rancor, e o rancor à amargura. No entanto, por trás de tudo isso, está um desejo de vingança que vai crescendo, até ficar insuportável dentro da pessoa. De fato, um abismo chama outro abismo (Sl 42:7).
Todo esse emaranhado de sentimentos apodrecidos tiram a pureza de nosso coração e deixa-nos emocionalmente doentes e espiritualmente arrasados. Faz com que a pessoa ofendida viva em função da pessoa odiada. E, uma vez que a boca fala do que o coração está cheio, os lábios do amargurado exalam o odor de uma sepultura aberta. O personagem bíblico que estamos estudando hoje tinha tudo para se tornar uma pessoa rancorosa e vingativa. Porém, ele resolveu não aceitar esse mal em sua vida. Ao enfrentar a agressão, Davi soube evitar a amargura. Vejamos o que ele fez:
Em primeiro lugar, ele olhou para Deus com discernimento. Por gentileza, olhe novamente, em sua Bíblia, o versículo 10, na parte b: Ora, deixai-o amaldiçoar; pois, se o Senhor lhe disse: Amaldiçoa a Davi, quem diria: Por que assim fizeste? Agora, dê uma olhada no versículo 12: Talvez o Senhor olhará para a minha aflição e o Senhor me pagará com bem essa maldição. O que essas palavras nos ensinam? O rei estava enfrentando aquela humilhação, e, ao invés de se ofender e revidar, ele pensou: “Vejo a mão de Deus nessa situação”. “Há um propósito divino nisto”. Quanto discernimento desse homem, irmãos! O seu foco estava no Senhor e não nas circunstâncias.
Ele sabia que Deus estava na condução de sua vida e que aquilo aconteceu sob permissão divina. Quando atacarem você com palavras caluniosas ou ações ultrajantes, não contra ataque; ao contrário, olhe para Deus e pergunte: “O que o Senhor quer me ensinar?”; “Pai, qual é o seu propósito em me deixar passar por isso?”. Foi algo semelhante que Davi fez. Mas não só isso: em segundo lugar, ele olhou para Simei com misericórdia. Veja que curioso: no versículo 11, Davi virou-se para seus companheiros e disse: Até meu filho, sangue do meu sangue, procura matar-me. Quanto mais este benjamita! Deixem-no em paz! (NVI). Davi procurou compreender as razões do agressor.
Não sei se você notou, mas Simei era do povo de Deus e conhecia a Deus (cf. v.8). Contudo, era um servo de Deus amargurado. Sabe por quê? Antes de Davi se tornar rei, Simei pertencia à família real, era parente de Saul (v.5). Imagine quantos privilégios ele perdeu, quando Davi assumiu o trono. Ele tinha razões para odiá-lo. O rei procurou entendê-lo e o olhou com misericórdia. Esse é um gesto nobre, mas que requer muita abnegação. Quando alguém se levantar contra você, faça o mesmo! Procure ver o que está por trás daquelas palavras e daquela conduta ofensiva. É possível que você descubra uma pessoa imatura, rancorosa, infeliz e digna de pena. Ter compaixão do ofensor é uma bela atitude cristã e uma maneira eficaz de manter o coração puro.
Por outro lado, devemos ter muito cuidado para não nos tornarmos rancorosos como era Simei. Quantos cristãos amargurados você conhece? Infelizmente, há, dentro das igrejas, algumas pessoas que não souberam lidar com a agressão e se tornaram parecidas com Simei. Pessoas revoltadas com os irmãos, com o pastor, com a família, com o trabalho, com a vida. Sobre isso, Paulo alertou os efésios: Livrem-se de toda amargura (Ef 4:31). É isso que devemos fazer! Se alguém lhe ofendeu, não permita que isso adoeça a sua alma. Mas, se você já está amargurado, creia: Deus tem cura para você, hoje.
Esse é o segundo princípio para se lidarmos com a agressão: ao lidar com a agressão evite a amargura. Vejamos, agora, o último princípio:
3. AO LIDAR COM A AGRESSÃO, PREFIRA O PERDÃO
Vamos avançar alguns capítulos, nessa história. Localize, por gentileza, em sua Bíblia, 2 Samuel, capítulo 19 e dê uma olhada a partir do versículo 15. Passaram-se alguns dias, e Absalão teve uma morte trágica e cruel. Embora não fosse a vontade do rei, esse triste evento devolveu-lhe o trono. Agora, ele e seus guerreiros estavam voltando ao palácio. Davi estava sendo aclamado pelo povo. Saiu do mais profundo poço para o posto mais alto de Israel. A caminho de Jerusalém, eles chegaram ao rio Jordão, e sabe quem apareceu lá? Ele mesmo: O irritante Simei! Ele se deu conta da bobagem que havia feito. Veio, prostrou-se diante do rei e pediu-lhe perdão.
Observe as palavras dele, nos versículos 19 e 20: Meu senhor, não me condenes nem te lembres do que o teu servo fez perversamente, no dia em que o rei meu senhor saiu de Jerusalém; que o rei não guarde isso no coração. Porque eu, teu servo, confesso que pequei. Simei disse as frases mais difíceis de se dizer: “Eu pequei” e “Por favor, perdoe-me”. São frases poderosas e libertadoras. Pois bem, o que você faria, se, naquele momento, estivesse no lugar de Davi? Ou melhor: Como você já reagiu em situações semelhantes? Ali, o rei tinha três alternativas: ser indiferente a Simei, vingar-se dele ou perdoá-lo.
Abisai, filho de Zeruia, não pensou duas vezes: Simei amaldiçoou o ungido do Senhor; ele deve ser morto! (v. 21). Nós, em situações assim, preferimos a indiferença, viramos o rosto e desviamos da pessoa. Essa, também, é uma forma cruel e disfarçada de vingança. Contudo, Abisai, o pavio curto, não aconselha Davi a ignorar Simei. Seu conselho é como se dissesse: “Não dê ouvido a esse traidor. Ele o pisou e o chutou, quando você estava no chão. Agora, é sua vez! Chute com toda a sua força e destrua esse perdedor!” Davi respondeu como antes: Que tenho eu convosco, filhos de Zeruia? (v. 22). Em seguida, olhou para Simei, aquele irmão de difícil convivência, e lhe concedeu perdão, dizendo: Eu juro que você não será morto (v. 23).
O servo de Deus não se deixou levar pelos conselhos insanos de seu sobrinho e desculpou o ofensor, de todo coração. Que atitude magnífica e misericordiosa! Sua capacidade para perdoar é um exemplo formidável para nós. Mas como é possível perdoar uma pessoa tão repulsiva assim? É simples: Podemos imaginar que, ao ouvir Simei dizer “Eu pequei”, deve ter passado, na mente de Davi, um “filme” de sua vida, pois, há pouco tempo, ele havia dito as mesmas palavras ao profeta Natã. Irmãos, o perdão fica mais fácil, quando lembramos situações em que também erramos e fomos perdoados, quando reconhecemos que também somos pecadores. Devemos perdoar, pois recebemos o perdão de Deus, que é infinitamente maior do que o perdão que oferecemos.
O perdão não uma questão de justiça, mas um ato de misericórdia. Oferecer perdão não é apenas não revidar: é restaurar os laços quebrados, é cancelar a dívida daqueles que nos ferem. Isso não é algo natural ao ser humano. É algo divino! Por isso mesmo, só é possível exercitá-lo com a ajuda de Deus. Mas é muito bom saber que perdoar não é uma emoção, mas uma decisão que tomamos. Não é uma escolha fácil, mas é a mais acertada. Quando alguém nos fere e nos decepciona, isso causa raiva, desânimo e amargura. Se não houver perdão, esses sentimentos vão se acumulando aos poucos e se transformando em muralhas que nos aprisionam, nos separam das pessoas e nos paralisam. Só o perdão pode nos libertar dessa prisão.
A mágoa é como um câncer da alma. Ela nos adoece, tira a nossa paz e nosso ânimo. Ela nos consome por dentro. O perdão é a cura milagrosa que Deus nos concede. Essa cura é fundamental ao cristão: A Bíblia nos ensina que quem não perdoa, não pode adorar (Mt 5:23-24), nem receber perdão (Mt 6:15); não tem paz (Mt 18:34-35), nem vitória contra Satanás (2 Co 2:10-11) e até as suas orações são impedidas (1 Pd 3:7). Se, hoje, você precisa dessa cura, para pedir ou conceder perdão a alguém, então ore e entregue a situação ao Senhor e peça que o Espírito Santo coloque, em seu coração, coragem para dizer: “Eu errei; perdoe-me”, ou disposição para perdoar quem o ofendeu.
CONCLUSÃO: Sem saber, aquele rei estava tendo atitudes semelhantes às de Jesus Cristo. Em 1 Pedro 2:23, lemos que o Senhor, quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça. Lá, na cruz, onde sofreu suas maiores afrontas, não ficou ressentido, nem quis vingar-se de seus algozes; ao contrário, orou, dizendo: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem (Lc 23:33). Quando, a exemplo de Davi, dominamos a emoção e não revidamos, nem guardamos mágoa no coração, mas perdoamos os que nos maltratam, estamos agindo como Jesus agiu.
Peça, hoje, ao Pai, disposição para perdoar e sabedoria para lidar com as agressões e as afrontas. Assim, você estará trilhando os passos de Jesus e se libertando do padrão humano de ação e reação, de ofensa e vingança. O caminho de Jesus é mais sublime. Foi ele quem nos ensinou a amar os nossos inimigos e bendizer os que nos maldizem. Quando se vinga, você apenas se iguala ao inimigo; mas, perdoando, você se torna superior, pois se iguala a Jesus. Pense nisso: “Quando matamos, parecemos animais. Quando julgamos, parecemos homens. E, quando perdoamos, nos assemelhamos a Cristo”. Que o Senhor nos dê um coração perdoador e nos faça homens e mulheres segundo o coração dele.