Por Pr. Rivaldo Correa de Melo Filho
"Se o seu irmão pecar contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. Se ele o ouvir, você ganhou seu irmão. Mas se ele não o ouvir, leve consigo mais um ou dois outros, de modo que ‘qualquer acusação seja confirmada pelo depoimento de duas ou três testemunhas’. Se ele se recusar a ouvi-los, conte à igreja; e se ele se recusar a ouvir também a igreja, trate-o como pagão ou publicano. "Digo-lhes a verdade: Tudo o que vocês ligarem na terra terá sido ligado no céu, e tudo o que vocês desligarem na terra terá sido desligado no céu. (Mt 18:15-18)
Disciplina é a palavra que tem relação com a palavra ensino. Vem do latim e significa ação de instruir, educação, ensino. A disciplina tem, pois, em mira trazer ensinamentos.
Nos tempos apostólicos, a disciplina era bem rígida. Na igreja de Corinto era tolerado um incestuoso, pois um dos seus membros vivia com a mulher de seu pai, todos sabiam e não tomavam nenhuma providência. Ao tomar conhecimento de tal situação, o apóstolo Paulo reprovou a tolerância daqueles crentes com o pecado e, em seguida, declarou: “Em nome do Senhor Jesus, congregados vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus, seja entregue a Satanás para a destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (1 Co 5.4-5).
O exemplo acima citado é dos tempos apostólicos. Por que a igreja não aplicou a disciplina correspondente ao pecado cometido? Pode-se pensar que o incestuoso pertencesse a alguma família influente e, por isso, a igreja receasse criar problemas. Pode-se pensar também que os crentes já estavam tão apáticos espiritualmente que não percebiam a gravidade do pecado que estava sendo cometido.
Este episódio, ocorrido na igreja de Corinto, é uma prova de que há crentes que, infelizmente, gostariam que a igreja não usasse de nenhuma disciplina, e chegam a dizer que a igreja não deve preocupar-se com a vida de seus membros. Lamentavelmente, já se tem ouvido declarações como essa.
Em Atos dos Apóstolos 5.1-6, está registrado que, por terem mentido vergonhosamente, Ananias e Safira foram mortos pelo Senhor, para ensinar à igreja nascente o temor do Senhor. Que exclusão, hein?!
Quatro leis importantes que devem orientar a vida dos crentes
1. A lei do amor. Essa é a lei primordial, essencial na aplicação de qualquer disciplina. Jesus nos ensinou que devemos amar uns aos outros (Jo 15.12). Na aplicação da disciplina, o amor deve ser visto e sentido.
2. A lei da confissão de faltas. Jesus exorta a que confessemos nossas faltas. O pecado sempre traz conseqüências não só para quem o pratica como, muitas vezes, para a comunidade. Jesus disse que Deus não aceita o culto de quem não confessa as faltas ou não conserta a sua vida (Mt 5.24,25). Ele disse que deveríamos perdoar aqueles que nos ofendem (Mt 6.14).
3. A lei do perdão. Essa é uma lei enfatizada por Jesus. Ele disse que, se nós não perdoarmos os que nos ofendem, não poderemos ser por Ele perdoados (Mt 6.15; Mc 11.26). Há pessoas que só querem ser perdoadas, mas nunca estão prontas a perdoar aqueles que as ofendem. Há até os que dizem: “Eu perdôo, mas não esqueço...” Isso jamais foi perdão. O perdão leva o perdoador a esquecer que foi ofendido.
4. A lei da santidade da igreja e de seus membros. Essa lei tem como objetivo manter a pureza do corpo de Cristo e sua doutrina (1 Co 5.1-13).
Duas espécies de ofensas
1. Ofensas particulares. No caso de a ofensa ter sido particular, a pessoa ofendida deve proceder de acordo com o que Jesus prescreveu em Mateus 5.23-24; 18.15-16. No primeiro texto referido, Cristo Jesus exorta:“Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem apresentar a tua oferta”. Sem que o crente proceda desse modo, o culto prestado por ele não terá nenhum valor para o Senhor. Já no segundo texto referido, Jesus assevera: “Ora, se teu irmão pecar, vai e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, terás ganho teu irmão; mas se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda palavra seja confirmada”.
Lamentavelmente, por falta de compreensão ou por negligência, muitos casos de ofensas particulares não foram resolvidos porque as pessoas envolvidas não deram ouvidos ao ensino do Mestre.
2. Ofensas públicas. As ofensas públicas ou gerais devem ser tratadas do mesmo modo como o apóstolo Paulo tratou do caso do incestuoso na igreja de Corinto. Não poderia continuar no seio da igreja um membro que cometia tal ato de impureza, pois se a igreja não tomasse sérias providências, teria comprometido o seu caráter. A igreja é o corpo de Cristo e Ele é o seu cabeça. Ele quer que a igreja seja santificada, pois quer“apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5.27).
Paulo foi incisivo no caso do incestuoso que a igreja de Corinto tolerava: “Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já julguei, como se estivesse presente, aquele que cometeu este ultraje. Em nome de nosso Senhor Jesus, seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (1 Co 5.3-5).
Por “entregar a Satanás” entendia-se, naquela época, que o elemento, na igreja, está sob a proteção de Deus e, afastado dela, em pecado, está no reino de Satanás, que é o patrocinador das obras da carne. O elemento que cometeu tal tipo de ofensa pública, passado algum tempo, voltaria à igreja para a comunhão. No caso do incestuoso, Paulo diz que ele deve ser “entregue a Satanás para a destruição da carne”, isto é, para que o pecador saiba que a carne para nada aproveita, mas que só o espírito é que vivifica. Se o incestuoso era crente, e se arrependesse, ele não perderia a salvação e deveria ser reintegrado à Igreja, o reino de Deus. É por isso que Paulo aduz: “...para que o espírito seja salvo no dia de Cristo”, o que seria o mesmo que afirmar, se o incestuoso, mais tarde, se arrependesse, poderia voltar para o seio da igreja.
Em sua Segunda Carta aos Tessalonicenses, Paulo fala também da maneira como se deve tratar o “irmão que anda desordenadamente”: “Mandamo-vos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebestes” (2 Ts 3.6). Já na carta aos Romanos, Paulo exorta sobre os “divisionistas”: “Rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles” (Rm 16.17). Ainda em 1 Coríntios 5.11, Paulo declara: “Mas agora vos escrevo que não vos comuniqueis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal nem sequer comais”.
As principais ofensas públicas registradas na Bíblia são:
a) contenda e partidarismo – Rm 16.17-18;
b) desrespeito à autoridade – Mt 18.17;
c) ensino de doutrinas falsas – Gl 1.9; 2 Jo 7-11; Tt 3.9-11;
d) preguiça, maledicência – 2 Ts 3.6-15;
e) conduta imoral – 1 Co 5.1-13;
f) espírito de cobiça – Ef 5.5;
g) espírito de arrogância – 3 Jo 9;
h) litígio nos tribunais – 1 Co 6.6;
i) denúncia contra presbíteros sem testemunhas – 1 Tm 5.19,20;
j) alguma falta – Gl 6.1;
O valor da disciplina
A disciplina tem em mira resguardar a igreja e conservá-la dentro da pureza apostólica. Igreja sem disciplina é igreja relaxada, relapsa, desnorteada, porque não está cumprindo o que a Bíblia ensina. Ela vai, assim, aos poucos, ficando corrompida. Igreja que permite a frouxidão em sua disciplina não só terá resultados espirituais desastrosos, como será um mau exemplo para outras igrejas e estará incorrendo em erros merecedores da mesma repreensão a que foi submetida a igreja de Laodicéia, descrita em Apocalipse 3.14-22.
A disciplina é, para a igreja, uma grande benção, pois concorre para a sua santificação e para a pureza do tecido social, espiritual e eclesiástico.
Tipos de disciplina
1. Disciplina formativa. Ao converter-se, o crente é, na igreja, como uma criança que necessita de cuidados especiais, de ensino, de orientação, apoio, instrução e amor.
Os crentes vão crescendo, no seio da igreja, através da disciplina formativa que é provida por meio de vários recursos pedagógicos: a exposição de mensagens doutrinárias, bíblicas e de exortações gerais, pelo pastor; os estudos na Escola Bíblica – a melhor escola do mundo – que, bem equipada, trará benefícios incalculáveis para o neoconverso; outras organizações da igreja, que existem e são compatíveis com cada faixa etária.
A disciplina formativa visa a construir o caráter cristão e a consciência real dos crentes, para poderem enfrentar todos os desafios que o mundo lhes propõe. Uma igreja sábia não poupará esforços até que veja seus membros recebendo esse tipo de disciplina plasmadora da vida espiritual daqueles que a compõem.
Um dos métodos mais em voga, na atualidade, é o discipulado, que não é novo, pois o Senhor Jesus o recomendou. Qualquer igreja que quiser ter crentes bem doutrinados, bem alicerçados na fé, para poderem enfrentar a sorte de ventos e doutrinas estranhas, heterodoxas, deve manter cursos de discipulado, que outra coisa não é senão as antigas classes de catecúmenos. Só que hoje, o discipulado recebe maior atenção e cuidado.
A igreja deve sempre promover, também, cursos especiais sobre as doutrinas da mordomia, da evangelização, de missões, de ação social, preocupando-se em preparar os crentes nessa obra e na educacional.
Igreja forte, vibrante, evangelística, é aquela que dá grande ênfase à disciplina formativa, que ajuda muito a evitar a aplicação dos outros tipos de disciplina, funcionando de maneira preventiva.
2. Disciplina corretiva. Quem não está sujeito a falhas? Quando falhamos ou incidimos em algum erro precisamos ser corrigidos. A correção existe para ajudar, salvar. É do grande apóstolo Paulo a exortação:“Irmãos, se um homem chegar a ser surpreendido em algum delito, vós que sois espirituais corrigi o tal...” (Gl 6.1).
Como deve ser aplicada a disciplina corretiva a um irmão que tenha cometido algum deslize? Paulo orienta que a aplicação deve ser feita no espírito de mansidão. Igrejas há que o espírito de muitos membros é o de farisaísmo. Tratam o irmão que fraquejou com espírito de superioridade, com orgulho e até presunção.
Paulo não só recomenda que se trate o irmão infrator com a mansuetude que deve caracterizar cada servo de Cristo (pois Ele declarou: “...aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” – Mt 11.29), como também nos previne: “...e olha por ti mesmo, para que tu também não sejas tentado” (Gl 6.1).
A aplicação da disciplina corretiva tem em vista conquistar o irmão que cometeu transgressão contra os ensinos escriturísticos. Por isso, a Comissão de Membros deve ser composta por pessoas que encarnem a virtude da mansidão, do amor, do aconselhamento. Alguns membros não podem fazer parte de uma comissão como essa porque só pensam em olhar para o “argueiro do olho do irmão”. Jesus já dissera: “Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho; e então verás bem para tirar o argueiro do olho do teu irmão” (Mt 7.4-5).
Há muitos pecados que devem ser corrigidos. Eles não podem proliferar. Alguns parecem até que ser de pouca importância para muitos, mas, na realidade, são pecados mesmo. Para Deus, não há pecadinhos, nem pecadões.
Paulo escreve: “Mas a prostituição, e toda sorte de impureza ou cobiça, nem sequer se nomeie entre vós, como convém a santos” (Ef 5.3).
Aos colossenses, Paulo escreveu dizendo que a avareza é idolatria (Cl 3.5). Sabemos que a causa do Senhor requer um coração generoso, amplo. Ora, a avareza produz um coração fechado, e Paulo diz que ela é idolatria. Por quê? Porque o homem avarento faz do seu dinheiro o seu deus e não pode, de modo algum, ver a causa de Deus nem o seu progresso. A avareza é um dos pecados que deve ser combatido pela disciplina corretiva.
Outro pecado terrível é o da maledicência. Ele precisa ser corrigido. Tiago o ataca fortemente (Tg 3.1-11). Ele diz que a língua é como um fogo. Há crentes incendiários. Com a língua incandescente, eles, pelo fogo da maledicência, provocam grandes estragos na igreja. Há, realmente, muitos vivo-mortos que foram mortos moralmente pelo fogo da maledicência.
É preciso que a igreja combata os incendiários maledicentes usado os bombeiros de Deus, os seus ministros que, com a Santa Palavra, buscam combater o fogo do pecado.
Além dos pecados acima citados e comentados, deve-se usar a disciplina corretiva contra o espírito de facção, de inveja, de orgulho, do mundanismo. Os que praticam tais pecados precisam da disciplina corretiva, na base da mansidão e do amor.
3. Disciplina cirúrgica. Cirurgia tem relação com corte, amputação, separação. Qualquer parte do corpo que esteja prejudicando todo o organismo deve ser cortada, a fim de que esse possa sobreviver. É melhor perder uma parte do corpo do que permitir que ela venha a trazer-lhe maiores prejuízos.
A igreja é um corpo e, como tal, tem membros que podem trazer-lhe danos, se não for detectado em tempo o perigo que eles representam, permanecendo no corpo. Quando algum membro adultera, ou rouba, ou comete algum pecado que escandalize e ofenda a moral da igreja, esta não pode ser complacente. Deve aplicar a disciplina cirúrgica. Em assim fazendo, a igreja está demonstrando que zela pela pureza de todo o seu corpo, prezando a sua união com Cristo, e que não admite qualquer tipo de pecado. Porque escondeu o seu pecado, Acã trouxe a derrota para o exército de Deus. Só depois que foi eliminado é que o exército pôde vencer o inimigo (Js 7.19-26).
A igreja deverá, no entanto, permanecer orando pelo irmão que foi eliminado de seu seio, para que ele se arrependa de seu pecado e restaure a sua vida espiritual, retornando, o mais depressa, à comunhão cristã.
Nos tempos apostólicos, a disciplina era bem rígida. Na igreja de Corinto era tolerado um incestuoso, pois um dos seus membros vivia com a mulher de seu pai, todos sabiam e não tomavam nenhuma providência. Ao tomar conhecimento de tal situação, o apóstolo Paulo reprovou a tolerância daqueles crentes com o pecado e, em seguida, declarou: “Em nome do Senhor Jesus, congregados vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus, seja entregue a Satanás para a destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (1 Co 5.4-5).
O exemplo acima citado é dos tempos apostólicos. Por que a igreja não aplicou a disciplina correspondente ao pecado cometido? Pode-se pensar que o incestuoso pertencesse a alguma família influente e, por isso, a igreja receasse criar problemas. Pode-se pensar também que os crentes já estavam tão apáticos espiritualmente que não percebiam a gravidade do pecado que estava sendo cometido.
Este episódio, ocorrido na igreja de Corinto, é uma prova de que há crentes que, infelizmente, gostariam que a igreja não usasse de nenhuma disciplina, e chegam a dizer que a igreja não deve preocupar-se com a vida de seus membros. Lamentavelmente, já se tem ouvido declarações como essa.
Em Atos dos Apóstolos 5.1-6, está registrado que, por terem mentido vergonhosamente, Ananias e Safira foram mortos pelo Senhor, para ensinar à igreja nascente o temor do Senhor. Que exclusão, hein?!
Quatro leis importantes que devem orientar a vida dos crentes
1. A lei do amor. Essa é a lei primordial, essencial na aplicação de qualquer disciplina. Jesus nos ensinou que devemos amar uns aos outros (Jo 15.12). Na aplicação da disciplina, o amor deve ser visto e sentido.
2. A lei da confissão de faltas. Jesus exorta a que confessemos nossas faltas. O pecado sempre traz conseqüências não só para quem o pratica como, muitas vezes, para a comunidade. Jesus disse que Deus não aceita o culto de quem não confessa as faltas ou não conserta a sua vida (Mt 5.24,25). Ele disse que deveríamos perdoar aqueles que nos ofendem (Mt 6.14).
3. A lei do perdão. Essa é uma lei enfatizada por Jesus. Ele disse que, se nós não perdoarmos os que nos ofendem, não poderemos ser por Ele perdoados (Mt 6.15; Mc 11.26). Há pessoas que só querem ser perdoadas, mas nunca estão prontas a perdoar aqueles que as ofendem. Há até os que dizem: “Eu perdôo, mas não esqueço...” Isso jamais foi perdão. O perdão leva o perdoador a esquecer que foi ofendido.
4. A lei da santidade da igreja e de seus membros. Essa lei tem como objetivo manter a pureza do corpo de Cristo e sua doutrina (1 Co 5.1-13).
Duas espécies de ofensas
1. Ofensas particulares. No caso de a ofensa ter sido particular, a pessoa ofendida deve proceder de acordo com o que Jesus prescreveu em Mateus 5.23-24; 18.15-16. No primeiro texto referido, Cristo Jesus exorta:“Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem apresentar a tua oferta”. Sem que o crente proceda desse modo, o culto prestado por ele não terá nenhum valor para o Senhor. Já no segundo texto referido, Jesus assevera: “Ora, se teu irmão pecar, vai e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, terás ganho teu irmão; mas se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda palavra seja confirmada”.
Lamentavelmente, por falta de compreensão ou por negligência, muitos casos de ofensas particulares não foram resolvidos porque as pessoas envolvidas não deram ouvidos ao ensino do Mestre.
2. Ofensas públicas. As ofensas públicas ou gerais devem ser tratadas do mesmo modo como o apóstolo Paulo tratou do caso do incestuoso na igreja de Corinto. Não poderia continuar no seio da igreja um membro que cometia tal ato de impureza, pois se a igreja não tomasse sérias providências, teria comprometido o seu caráter. A igreja é o corpo de Cristo e Ele é o seu cabeça. Ele quer que a igreja seja santificada, pois quer“apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5.27).
Paulo foi incisivo no caso do incestuoso que a igreja de Corinto tolerava: “Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já julguei, como se estivesse presente, aquele que cometeu este ultraje. Em nome de nosso Senhor Jesus, seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (1 Co 5.3-5).
Por “entregar a Satanás” entendia-se, naquela época, que o elemento, na igreja, está sob a proteção de Deus e, afastado dela, em pecado, está no reino de Satanás, que é o patrocinador das obras da carne. O elemento que cometeu tal tipo de ofensa pública, passado algum tempo, voltaria à igreja para a comunhão. No caso do incestuoso, Paulo diz que ele deve ser “entregue a Satanás para a destruição da carne”, isto é, para que o pecador saiba que a carne para nada aproveita, mas que só o espírito é que vivifica. Se o incestuoso era crente, e se arrependesse, ele não perderia a salvação e deveria ser reintegrado à Igreja, o reino de Deus. É por isso que Paulo aduz: “...para que o espírito seja salvo no dia de Cristo”, o que seria o mesmo que afirmar, se o incestuoso, mais tarde, se arrependesse, poderia voltar para o seio da igreja.
Em sua Segunda Carta aos Tessalonicenses, Paulo fala também da maneira como se deve tratar o “irmão que anda desordenadamente”: “Mandamo-vos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebestes” (2 Ts 3.6). Já na carta aos Romanos, Paulo exorta sobre os “divisionistas”: “Rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles” (Rm 16.17). Ainda em 1 Coríntios 5.11, Paulo declara: “Mas agora vos escrevo que não vos comuniqueis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal nem sequer comais”.
As principais ofensas públicas registradas na Bíblia são:
a) contenda e partidarismo – Rm 16.17-18;
b) desrespeito à autoridade – Mt 18.17;
c) ensino de doutrinas falsas – Gl 1.9; 2 Jo 7-11; Tt 3.9-11;
d) preguiça, maledicência – 2 Ts 3.6-15;
e) conduta imoral – 1 Co 5.1-13;
f) espírito de cobiça – Ef 5.5;
g) espírito de arrogância – 3 Jo 9;
h) litígio nos tribunais – 1 Co 6.6;
i) denúncia contra presbíteros sem testemunhas – 1 Tm 5.19,20;
j) alguma falta – Gl 6.1;
O valor da disciplina
A disciplina tem em mira resguardar a igreja e conservá-la dentro da pureza apostólica. Igreja sem disciplina é igreja relaxada, relapsa, desnorteada, porque não está cumprindo o que a Bíblia ensina. Ela vai, assim, aos poucos, ficando corrompida. Igreja que permite a frouxidão em sua disciplina não só terá resultados espirituais desastrosos, como será um mau exemplo para outras igrejas e estará incorrendo em erros merecedores da mesma repreensão a que foi submetida a igreja de Laodicéia, descrita em Apocalipse 3.14-22.
A disciplina é, para a igreja, uma grande benção, pois concorre para a sua santificação e para a pureza do tecido social, espiritual e eclesiástico.
Tipos de disciplina
1. Disciplina formativa. Ao converter-se, o crente é, na igreja, como uma criança que necessita de cuidados especiais, de ensino, de orientação, apoio, instrução e amor.
Os crentes vão crescendo, no seio da igreja, através da disciplina formativa que é provida por meio de vários recursos pedagógicos: a exposição de mensagens doutrinárias, bíblicas e de exortações gerais, pelo pastor; os estudos na Escola Bíblica – a melhor escola do mundo – que, bem equipada, trará benefícios incalculáveis para o neoconverso; outras organizações da igreja, que existem e são compatíveis com cada faixa etária.
A disciplina formativa visa a construir o caráter cristão e a consciência real dos crentes, para poderem enfrentar todos os desafios que o mundo lhes propõe. Uma igreja sábia não poupará esforços até que veja seus membros recebendo esse tipo de disciplina plasmadora da vida espiritual daqueles que a compõem.
Um dos métodos mais em voga, na atualidade, é o discipulado, que não é novo, pois o Senhor Jesus o recomendou. Qualquer igreja que quiser ter crentes bem doutrinados, bem alicerçados na fé, para poderem enfrentar a sorte de ventos e doutrinas estranhas, heterodoxas, deve manter cursos de discipulado, que outra coisa não é senão as antigas classes de catecúmenos. Só que hoje, o discipulado recebe maior atenção e cuidado.
A igreja deve sempre promover, também, cursos especiais sobre as doutrinas da mordomia, da evangelização, de missões, de ação social, preocupando-se em preparar os crentes nessa obra e na educacional.
Igreja forte, vibrante, evangelística, é aquela que dá grande ênfase à disciplina formativa, que ajuda muito a evitar a aplicação dos outros tipos de disciplina, funcionando de maneira preventiva.
2. Disciplina corretiva. Quem não está sujeito a falhas? Quando falhamos ou incidimos em algum erro precisamos ser corrigidos. A correção existe para ajudar, salvar. É do grande apóstolo Paulo a exortação:“Irmãos, se um homem chegar a ser surpreendido em algum delito, vós que sois espirituais corrigi o tal...” (Gl 6.1).
Como deve ser aplicada a disciplina corretiva a um irmão que tenha cometido algum deslize? Paulo orienta que a aplicação deve ser feita no espírito de mansidão. Igrejas há que o espírito de muitos membros é o de farisaísmo. Tratam o irmão que fraquejou com espírito de superioridade, com orgulho e até presunção.
Paulo não só recomenda que se trate o irmão infrator com a mansuetude que deve caracterizar cada servo de Cristo (pois Ele declarou: “...aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” – Mt 11.29), como também nos previne: “...e olha por ti mesmo, para que tu também não sejas tentado” (Gl 6.1).
A aplicação da disciplina corretiva tem em vista conquistar o irmão que cometeu transgressão contra os ensinos escriturísticos. Por isso, a Comissão de Membros deve ser composta por pessoas que encarnem a virtude da mansidão, do amor, do aconselhamento. Alguns membros não podem fazer parte de uma comissão como essa porque só pensam em olhar para o “argueiro do olho do irmão”. Jesus já dissera: “Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho; e então verás bem para tirar o argueiro do olho do teu irmão” (Mt 7.4-5).
Há muitos pecados que devem ser corrigidos. Eles não podem proliferar. Alguns parecem até que ser de pouca importância para muitos, mas, na realidade, são pecados mesmo. Para Deus, não há pecadinhos, nem pecadões.
Paulo escreve: “Mas a prostituição, e toda sorte de impureza ou cobiça, nem sequer se nomeie entre vós, como convém a santos” (Ef 5.3).
Aos colossenses, Paulo escreveu dizendo que a avareza é idolatria (Cl 3.5). Sabemos que a causa do Senhor requer um coração generoso, amplo. Ora, a avareza produz um coração fechado, e Paulo diz que ela é idolatria. Por quê? Porque o homem avarento faz do seu dinheiro o seu deus e não pode, de modo algum, ver a causa de Deus nem o seu progresso. A avareza é um dos pecados que deve ser combatido pela disciplina corretiva.
Outro pecado terrível é o da maledicência. Ele precisa ser corrigido. Tiago o ataca fortemente (Tg 3.1-11). Ele diz que a língua é como um fogo. Há crentes incendiários. Com a língua incandescente, eles, pelo fogo da maledicência, provocam grandes estragos na igreja. Há, realmente, muitos vivo-mortos que foram mortos moralmente pelo fogo da maledicência.
É preciso que a igreja combata os incendiários maledicentes usado os bombeiros de Deus, os seus ministros que, com a Santa Palavra, buscam combater o fogo do pecado.
Além dos pecados acima citados e comentados, deve-se usar a disciplina corretiva contra o espírito de facção, de inveja, de orgulho, do mundanismo. Os que praticam tais pecados precisam da disciplina corretiva, na base da mansidão e do amor.
3. Disciplina cirúrgica. Cirurgia tem relação com corte, amputação, separação. Qualquer parte do corpo que esteja prejudicando todo o organismo deve ser cortada, a fim de que esse possa sobreviver. É melhor perder uma parte do corpo do que permitir que ela venha a trazer-lhe maiores prejuízos.
A igreja é um corpo e, como tal, tem membros que podem trazer-lhe danos, se não for detectado em tempo o perigo que eles representam, permanecendo no corpo. Quando algum membro adultera, ou rouba, ou comete algum pecado que escandalize e ofenda a moral da igreja, esta não pode ser complacente. Deve aplicar a disciplina cirúrgica. Em assim fazendo, a igreja está demonstrando que zela pela pureza de todo o seu corpo, prezando a sua união com Cristo, e que não admite qualquer tipo de pecado. Porque escondeu o seu pecado, Acã trouxe a derrota para o exército de Deus. Só depois que foi eliminado é que o exército pôde vencer o inimigo (Js 7.19-26).
A igreja deverá, no entanto, permanecer orando pelo irmão que foi eliminado de seu seio, para que ele se arrependa de seu pecado e restaure a sua vida espiritual, retornando, o mais depressa, à comunhão cristã.
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Texto do Pr. Rivaldo Correa de Melo Filho publicado pelo Missionário Arildo Gomes compartilhado no PC@maral
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